sexta-feira, 1 de abril de 2011

Livro: As Três Ecologias de F. Guattari - destacando um aspecto

O auto afirma que a Psicanálise, em sua prática, tende a produzir intervenções empobrecidas e conduz a estereótipos rígidos que impedem qualquer singularidade do paciente. Além disso, para ele a prática “psi” deveria ser sempre reinventada, ao invés de entrar na repetição. Entendo que essa “repetição” se refere às “sempre iguais” interpretações do analista para diferentes sujeitos. Um exemplo disso, são os "atelieres" de contos nos quais, após cada contação da história, solicita-se que as crianças façam um desenho. Uma delas que tenha sofrido violência sexual, os terapeutas que trabalham com a Psicanálise ao examinarem o desenho, prontamente identificam os formatos fálicos. Os desenhos pdoem ser ricos em cor e diversidade de “coisas” e a criança tão pouco falou sobre qualquer significado/sentido que ela própria tenha dado, e o que, frequentemente, impera é uma espécie de “voracidade interpretativa”. Me parece que, na prática “psi”, é mais fácil “agarrar-se” ao conhecimento pronto (às teorias), ao invés de permitir a aparição do “invisível”, do “mundo desconhecido” que cada pessoa é. Cada paciente, ou melhor, cada encontro com um (mesmo) paciente é um completo mistério; é algo como tatear no escuro. Entretanto, esse mistério não é para ser justamente o que nos apaixona na profissão? Então porque necessitamos nos “proteger” tanto com a teoria?



O autor discute a capacidade de sair do concreto e abrir-se para novas perspectivas, novas ideias e criar alternativas – isso vale tanto para a prática “psi” quanto para o próprio sujeito que está em terapia. Se nós, enquanto psicólogos, não acreditamos na possibilidade de criar novas possibilidades, como poderemos pensar em cura? Se ficamos sempre retornando ao velho e conhecido caminho já trilhado dos livros?  Não pretendo, de maneira nenhuma, reduzir a importância dos mais variados estudos e teorias das diversas áreas da Psicologia, mas a questão refere-se ao benefício real que a teoria possibilita em detrimento de não nos tornarmos capazes de olhar para as questões específicas e singulares daquele sujeito. Acredito que é imprescindível permitirmo-nos trabalhar com o paciente NA relação terapêutica, pelo que os dois juntos podem fazer acontecer (e CRIAR) e, só a partir daí, buscar apoio e, inclusive, outras possibilidades, na teoria. Do contrário, seguiremos na lógica de que a saúde (ou a “melhora” que o paciente veio buscar)  é, simples e tristemente, “retonar ao estado de saúde anterior”?



Esse “modelo” dicotômico, esses Territórios fechados em si, finitos, finitizados inerentes à atualidade foi duramente criticado por Guattari nesse livro, a medida que eles podem servir para a opressão e domesticação: “é essa abertura práxica que constitui a essência desta arte da “eco” [ecosofia – as 3 ecologias] subsumindo todas as maneiras de domesticar os Territórios existenciais, sejam eles concernentes a maneiras íntimas de ser, ao corpo, ao meio ambiente ou a grandes conjuntos contextuais relativos á etnia, à nação ou mesmo aos direitos gerais da humanidade.”

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