sábado, 2 de abril de 2011

Carbolitium

Estava pesquisando a respeito do medicamento "Carbolitium" e achei o seguinte no site da Anvisa:

"AÇÃO ESPERADA DO MEDICAMENTO
O Carbolitium CR® (carbonato de lítio) é indicado no tratamento de episódios maníacos nos transtornos bipolares; no tratamento de manutenção de indivíduos com transtorno bipolar, diminuindo a freqüência dos episódios maníacos e a intensidade destes quadros; na profilaxia da mania recorrente; prevenção da fase
depressiva e tratamento de hiperatividade psicomotora. 





Na ação clínica do lítio, salientam-se as seguintes características" (citarei apenas algumas delas):
b) Ausência de qualquer efeito narcótico ou hipnótico;
Narcótico = que faz adormecer, entorpecedor, que elimina a sensibilidade;

Hipnótico = capaz de induzir o sono; Estado de sono artificial ou transe provocado em pessoas sensíveis ou sugestionáveis;

Interessante essas informações terem sido colocadas nas "ações esperadas" do Carbolitium, não?!?! Primeiro, porque adormecimento e entorpecimento são coisas NÃO esperadas (deveriam estar alocadas nas reações adversas! Interessante notar que a parte das reações adversas está escrito em formato de um texto extenso e "chato", minado de termos técnicos dificultando a leitura do leigo). 

O outro ponto, é que alguém que quer "equilibrar" seu estado de humor certamente não deseja dormir e nem entrar num estado de transe, certo? É algo óbvio demais!
Entao, por que colocar isso na ação esperada?? Não seria justamente porque a maioria dos medicamentos psiquiátricos servem para amortecer e anestesiar as pessoas? E acabam por torná-las apáticas e domesticadas?


d) Possibilidade de completo retorno à vida anterior, ativa e útil; 

Essa afirmação é a mais cartesiana e biomédica possível! Fica ainda mais compreensível o senso-comum do dizer "Quero voltar a ser como eu era antes!". Onde começa e onde termina esses saberes instituídos e automatizados?! 

Fonte: www4.anvisa.gov.br/base/visadoc/.../BM%5B25584-1-0%5D.PDF




F. Capra, em seu livro "O Ponto de Mutação" defende que essa medicalização e mecanização do ser humano (concerta a parte estragada - a doença - e a máquina voltará a funcionar exatamente como estava antes do "sinistro") são apenas um dos aspectos do modelo biomédico; e esse modelo, por sua vez, é apenas uma das sérias questões da profunda crise que estamos passando enquanto sociedade. 

Além do modelo biomédico, Capra apontas diversos aspectos, tais como:
* absurdo gasto no investimento militar em armas nucleares, enquanto mais de 15 milhões de seres humanos, em sua maioria crianças, morrem de fome, anulamente; 
* o mundo industrial que segue construindo usinas nucleares enquanto já é sabido que a energia nuclear não é segura, nem limpa e nem barata, e que os elementos radioativos liberados por explosões e vazamentos de reatores colocam toda a Terra em risco pela acumulação de substâncias tóxicas no ar que respiramos, nos alimentos que comemos, na água que bebemos e nos riscos de câncer e doenças genéticas ( o desastre ocorrido no  Japão recentemente - 11/03/2011 fala por si); 
* a grave deteriorização do meio ambiente pela superpopulação e tecnologia industrial ( além do, consumismo e produção de lixo - observações minhas);
* nossa saúde também é ameaçada pela água e alimentos contaminados por grande variedade de produtos químicos;
* as doenças nutricionais e infecciosas que são as maiores responsáveis pela morte no "Terceiro Mundo"; e as doenças crônicas e degenerativas - doenças da civilização - sobretudo enfermidades cardíacas, o cancêr e o derrame nos países de "Primeiro Mundo"; afora as enfermidades "psi" como depressão, patologias do vazio, distúrbios de comportamento parecem "brotar" do meio ambiente social;
* anomalias econômicas que principais economistas e políticos não conseguem dar conta: inflação galopante, desemprego maciço, distribuição grosseiramente desigual etc;
* o "armário das ideias está vazio", referindo-se ao pensamento acadêmico;

Para o autor, a metodologia fragmentada, atualmente utilizada nas academias e organismos governamentais, já não consegue resolver a crise, a medida que os problemas são sistêmicos, ou seja, são interrelacionais e interdependentes. Trata-se de uma rede complexa de relações sociais e ecológicas que precisa de transformações profundas que deverão passar pelas nossas instituições sociais, valores e ideias.

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