quinta-feira, 12 de maio de 2011

Mitos

Segundo o historiador romeno Mircea Eliade, mito é “é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e complementares....o mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos começos...o mito conta graças aos feitos dos seres sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, quer seja uma realidade letal, o Cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, é sempre portanto uma narração de uma criação, descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a existir...¹” Eliade diz que os mitos estão presentes em todas as culturas, precedendo até mesma a linguagem. Eles revelam aspectos da realidade e, por seu intermédio, o homem carrega parte da humanidade anterior a si. Nesse sentido, não são jamais excluídos de nossa bagagem mental, entretanto, podem surgir com novas roupagens. Esse fato pode representar um possível ponto de partida à renovação espiritual do homem moderno.
No pensamento psicológico de Carl Jung, mito é uma narrativa que tem o objetivo de explicar os principais acontecimentos da existência humana. São formas de expressão do que Jung chamava de arquétipos (modelos primitivos inatos que funcionam como base para o desenvolvimento da psique). O tema central do mito é, pois, arquetípico, mas a forma de “contar” esse tema é que pode variar – e varia – dando origem às mais diversas narrativas mitológicas nas mais diversas culturas. Sua função seria ensinar sobre a condição humana e o processo da vida.
As idéias de Jung encontram consonância no pensamento de Joseph Campbell. Este, por sua vez, trabalha com a noção de que há um fio condutor das histórias mitológicas que lhes é comum. Desde os mitos antigos até o cinema moderno, tudo, para ele, parece recontar as mesmas histórias. O mito surge para Campbell como algo que possibilita o avanço, a evolução do indivíduo. Para explicar essa idéia, ele se utiliza da figura arquetípica do herói. O herói é aquele que vence suas limitações históricas e pessoais e avança rumo ao novo.  A aventura do herói é uma tarefa de autodesenvolvimento. O herói define a trilha, o fio condutor de sua aventura e tira-nos do desamparo: “onde esperávamos estar sozinhos, estaremos com o mundo inteiro²”. O percurso padrão é definido como: separação, iniciação e retorno. O herói parte de seu cotidiano, se aventura numa região de prodígios sobrenaturais e retorna de sua vitória com o poder de trazer benefícios aos seus semelhantes.
A análise dos três autores citados permite observar um certo padrão nos mitos, relacionado ao estado coletivo inconsciente da sociedade. Eles conferem ao ser humano uma possibilidade de simbolização das suas situações existenciais e nos abrem à compreensão de um mundo na ordem do trans-histórico.

Referências:
GOMES, Vinícius Romagnolli R – Um Retorno aos Mitos: Campbell, Eliade, Jung.
¹ELIADE, Mircea  Aspectos do Mito.
²CAPBELL, Joseph – O Heroi De Mil Faces. 

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