terça-feira, 30 de agosto de 2011

Escrever é terapêutico

ESCREVER
Clarice Lispector

Eu disse uma vez é uma maldição. Não me lembro por que exatamente eu o disse, e com sinceridade.
Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva.
Não estou me referindo muito a escrever para jornal.
Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transformar num conto ou num romance.
É uma maldição porque obriga e arrasta como um vício penoso do que é quase impossível se livrar, pois nada o substitui.
E é uma salvação.
Salva a alma presa, salva a pessoa que se sente inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende a menos que se escreva.
Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador.
Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada.
Que pena que só sei escrever quando espontaneamente a “coisa” vem.
Fico assim à mercê do tempo. E entre um verdadeiro escrever e outro, podem-se passar anos.
Lembro-me agora com saudade da dor de escrever livros.

In: A DESCOBERTA DO MUNDO. Editora Rocco.

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